Uma das facetas mais marcantes da pandemia é o isolamento social. E, com a quarentena prolongada, ocorre o desequilíbrio na oferta e na demanda de resíduos para reciclagem.
Quanto maior o tempo de permanência em casa, maior é a produção de lixo. De acordo com estimativa da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), durante as medidas de isolamento houve um aumento de 15% a 25% na quantidade lixo residencial gerado.
Apesar disso, as medidas para reduzir o contágio pelo vírus diminuíram as ações de coleta e separação do lixo. Com isso, o material não chega às cooperativas e a redução de renda para quem depende da atividade é significativa.
Ao receber a imagem de um dispensador de álcool em gel que pode ser acionado com os pés, Gomes pediu para que a equipe de operações da RCRambiental desenvolvesse um protótipo construído a partir de materiais recicláveis de baixo custo. Ao mesmo tempo, teve contato com um membro da associação #ReciclaCaieiras, que o ajudou a colocar o projeto em prática fornecendo materiais para a confecção dos aparelhos e engajando as comunidades.
Treinamento às famílias
O CrieAção vai além da ideia do produto. O projeto visa também oferecer treinamento às comunidades para que os dispensadores sejam produzidos de forma eficiente. De acordo com Eduardo Gomes, o processo de aprendizagem leva cerca de três horas e tem o apoio da Cooperativa dos Agentes Ambientais de Taboão da Serra (COOPERZAGATI) e de professores da Escola Municipal de Construção Civil, que providenciam certificados técnicos que comprovem a atuação.
Os materiais usados na produção dos aparelhos vêm das cooperativas e das próprias comunidades, além das doações que podem ser feitas por meio do site da iniciativa. O CEO da RCRambiental conta que 25 famílias em três comunidades – de Caieiras, Taboão da Serra e Francisco Morato – já foram capacitadas de forma direta.
O potencial de geração de renda do projeto é importante: cada 15 dispensers vendidos rendem aproximadamente um salário mínimo. O idealizador da iniciativa conta que 90% dos trabalhadores são mulheres e chefes de família e veem no CrieAção uma oportunidade de gerar sustento e seguir sobrevivendo durante a crise.
Sob a modalidade de open source, o projeto forcene o manual para a montagem dos aparelhos em um portal próprio. Gomes explica que não há um controle das vendas dos dispensadores produzidos, uma vez que o principal objetivo do projeto é estimular a geração de renda no maior número de comunidades possível. Ele aponta ainda que uma das vantagens é o preço competitivo do produto. Um dispensador do CrieAção é vendido a R$ 160, enquanto os preços do mercado podem chegar a RS 700.
Segundo o CEO da RCRambiental, o projeto social tem como pilar os 3S: solidariedade, sustentabilidade e aspectos sanitários. “O ser humano vai mudar alguns padrões de consumo e pensamento, então nossa vida deve mudar após a pandemia. Nós achamos [no CrieAção] uma oportunidade de efetivamente unir essas três necessidades e crescer pelo Brasil todo”, diz.
As experiências dos membros das comunidades estão se expandindo – vão desde a criativem inovar no produto original até a descoberta de habilidades de comunicação para lidar com compradores. “O sentimento é de alegria e gratidão por ver essas pessoas felizes e com expectativas. É muito legal vê-las gerar renda com dignidade”, diz Gomes.
O projeto é totalmente colaborativo. Por meio do portal, é possível atuar como doador, multiplicador ou comprador dos dispensadores. Para que o CrieAção se espalhe, a comunicação é essencial – seja conectando lojistas às comunidades ou divulgando a iniciativa a outros empreendedores. Gomes afirma que estuda parcerias com empresas e que deseja desenvolver uma espécie de marketplace para comercialização dos aparelhos.
Confira a matéria: https://revistapegn.globo.com/Negocio-social/noticia/2020/07/projeto-gera-renda-para-familias-enquanto-ajuda-no-combate-covid-19.html